terça-feira, 11 de setembro de 2007
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É um sub-mundo do consciente em que habitam os monstros e fantasmas, que não nos deixam dormir. Aqueles que nos atormentam o quotidiano pela força que têm e nunca se esquecem de nós, mesmo não estando entre os vivos, continuam a povoar o nosso imaginário pela grandeza que representam
1 comentário:
Vem por aqui!
- dizem-me alguns, com olhos doces, estendendo-me os braços e seguros de que seria bom que eu os ouvisse quando me dizem: vem por aqui!
Eu olho-os com olhos lassos, (Há nos meus olhos ironias e cansaços) E cruzo os braços, e nunca vou por ali... A minha glória e esta: Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém. -Que eu vivo com o mesmo sem vontade com que rasguei o ventre a minha mãe. Não, não vou por aí!
Só vou por onde me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber, nenhum de vos responde, por que me repetis: vem por aqui?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos, redemoinhar aos ventos, como farrapos, arrastar os pés sangrentos, a ir por ai...
Se vim ao mundo, foi só para desflorar florestas virgens, e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço, não vale nada. Como, pois, sereis vos que me dareis impulsos, ferramentas e coragem para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, e vos amais o que e fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem, amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide!
Tendes estradas, tendes jardins, tendes canteiros, tendes pátrias, tendes tectos, e tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha loucura!
Levanto-a como um facho, a arder na noite escura.
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; mas eu, que nunca principio nem acabo, nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me de piedosas intenções!
Ninguém me peca definições!
Ninguém me diga: vem por aqui!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí!
CÃNTICO NEGRO,
José Régio
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